Estou na reta final da escrita da minha dissertação de mestrado, então não tenho conseguido me dedicar a textos inéditos. Decidi transferir para esta plataforma os textos que publiquei na minha conta do Medium. São, em sua maioria, crônicas. O texto de hoje foi escrito e publicado originalmente em junho de 2021 e é um dos meus favoritos.
Esses dias li uma frase da escritora e psicanalista Ana Suy que dizia “nem tudo é possível. por isso, cada vez que realizamos um desejo, encontramos com uma falta. a satisfação é sempre parcial”. E não pude me identificar mais.
Toda vez que faço um exercício de perspectiva, sempre chego à mesma conclusão: estou exatamente onde eu queria estar. Era isso que eu desejava desde o ano passado, ou desde a graduação, etc. Só não estou tão realizada quanto julguei que estaria.
Talvez seja porque meu eu do passado queria, naquele momento, o que eu estou vivendo agora, e o eu do agora não se identifica tanto com o desejo do meu eu passado.
Mas já percebi que não dá para vencer a falta; ela sempre persiste. Encontra um jeito de se embrenhar em alguma dúvida, alguma frustração ou insegurança.
A falta se apropria.
Diz: “Que bom que você atingiu esse objetivo, mas e esse outro aqui? Ainda não está bom o bastante”. E, assim, aquela satisfação pelo objetivo finalmente atingido se torna algo parcial.
Mas é cansativo viver no plano da insatisfação. Não é uma amargura, mas é algo que não dá tempo de relaxar e aproveitar a conquista; começa a se criar um pequeno monstrinho interno empurrando para querer outra coisa. Mas de novo? De novo.
A falta se apropria do nosso cansaço e tenta ocupar espaço naquilo que nós não podemos suprir.
Pensei em suprir essa falta persistente fazendo artesanato, algo para silenciar um pouco a mente e entender o que eu quero, afinal.
Andei 50 minutos em busca de uma loja de artesanato para comprar linha e agulhas de tricô e fazer um cachecol. Cheguei na loja e o vendedor me fez várias perguntas que eu não sabia como responder, sai de lá com a missão de estudar um pouquinho os vídeos do YouTube sobre o assunto antes de tentar me aventurar na atividade manual. Não é possível simplesmente fazer, ou suprir, como pensei que poderia.
Insatisfeita com o resultado da minha busca, à noite passei em uma banca de jornal e comprei um maço de cigarro (que eu não fumo) e uma revista de palavras-cruzadas (para preencher algumas lacunas insuspeitas) que perdi 5 minutos depois.
A falta prega peças na nossa tentativa de preencher a parte que falta do desejo que realizamos.
Jung diz que, às vezes, as mãos resolvem um mistério com o qual o intelecto lutou em vão.
Provavelmente, vou jogar o maço de cigarro fora, assistir os vídeos do YouTube sobre como fazer um cachecol, e tentar resolver esse mistério.
Bonito texto, Marina. A falta é o que move, afinal.