#19 | De tudo um pouco: molhar as palavras
Assim como os lábios se comprimem após bebericar uma xícara de café, assim como o pescoço se inclina para olhar o céu azul.
Assim como os olhos marejam de angústia, ou os vincos se formam no rosto após uma gargalhada
Assim como o vento balança gentilmente as árvores e a onda do mar se propaga até quebrar na praia.
Assim como o abraço apertado esquenta e o beijo apaixonado excita.
Assim como o seu cheiro é perfume para minhas narinas.
Assim como a pele da mão vai se fragilizando e o primeiro dente do bebê faz chorar.
Assim como falar faz você saber, assim como escrever deixa um vestígio.
Assim como viver é natural, o movimento é o percurso da nossa história, e a morte é o único caminho que nunca erraremos.
É preciso molhar as palavras. Torná-las macias e moldáveis. Vivas e reais. Sensíveis e açucaradas.
Dar um banho de luz, tirá-las da prisão sombria da utilidade, e levá-las ao seu caminho de origem. Ao verdadeiro, ao real, ao que existe e sempre existiu.
É preciso molhar as palavras, como quem rega uma planta, umidifica a terra. Dá vida e dá fruto. Vira texto, rascunho, nota solta, livro, diário. Vira algo depois. Sim ou não. Não precisa, mas pode virar. Primeiro, é preciso molhar as palavras.
Molhar as palavras também é mergulhar em boas referências. Muitas mulheres são referências para mim.
Tenho feito um exercício de buscar conhecer as histórias das mulheres que vivem do ofício da escrita e de outras produções literárias e artísticas em geral. Sou grande fã de biografias, e desde que assisti ao musical sobre a vida de Rita Lee, fiquei ainda mais interessada em saber mais sobre a vida de mulheres que são referências no Brasil – também sobre mulheres brasileiras que são referência além das fronteiras.
Ontem, ouvi o podcast Angu de Grilo, apresentado pelas jornalistas Flávia Oliveira e Isabela Reis, mãe e filha, com a participação especialíssima da escritora Conceição Evaristo. Foi Conceição Evaristo quem usou a expressão “molhar as palavras” que inspirou esta edição. Além de recomendar fortemente que ouçam o episódio, disponível em várias plataformas de streaming, reconheço e faço votos para que nossa fonte de inspiração também seja banhada pela história de nossa gente.
Por aqui, sou grande admiradora e leitora de muitas mulheres. Há estilos e propostas diversas no universo das newsletters, de modo que encorajo o ato de explorar. Mas não posso deixar de citar o trabalho da
, da , e da , escritoras com estilos, repertórios e propostas diferentes, mas que sempre me inspiram de alguma forma.Para molhar as palavras, acredito no poder de beber da fonte de grandes escritoras como Conceição Evaristo e de tantas outras mulheres escritoras contemporâneas brasileiras, de diversos universos, complementares e opostos.
Como fontes, rios e águas. Escrevemos e lemos para nos nutrir.
Fonte em outras artes




Marina que texto lindo e que lindo ver esse movimento, que tem sido o que tenho feito do lado de cá também! Fiquei feliz demais de compartilharmos referências <3
Marina <3 Gosto tanto do que vc escreve