Em uma prática de Yin Yoga, a instrutora falou sobre encontrar conforto no desconforto ao permanecer de forma alongada em posturas desconhecidas para o corpo e, então, ao sair da zona de conforto de si mesmo, abrir espaços. Tenho meditado sobre as inúmeras possibilidades de interpretação dessa singela nota sobre conforto e desconforto. Algumas ressoam mais latentes e me fizeram derramar lágrimas durante a meditação em Padmasana.
Compreendi que precisava me tornar mais consciente do meu corpo, enquanto abrigo da minha consciência. Dar mais atenção ao meu nutrir e ao movimento, à direção do meu corpo e da minha energia. Afinal, para onde estou indo?
Não mais ir, agora é sobre ficar.
Cheguei aos trinta com a pele um pouco mais flácida e os joelhos mais rígidos, abrigando um corpo não tão jovem, mas disposto a seguir sonhando alto. Em um balanço sobre conquistas e fracassos, notei o quanto precisava voltar os olhos para mim.
Ter permanecido no Brasil após quase cinco anos tentando me mudar para outro país é um fracasso pessoal que me acompanha como uma dor menos aguda, mas ainda em processo de cura. Inúmeras foram as razões; entre falta de dinheiro em um momento, pandemia em outro e falta de apoio de quem eu mais precisava no momento crucial.
Não importa mais, no fim, não deu.
Não conheço quem admita abertamente o lugar do não acontecimento como uma possibilidade de encontrar caminhos, apesar do insucesso. Não se diz nada. É como se entre uma realização e outra existisse apenas um vácuo onde nada deu errado. Mas dá errado demais, o tempo todo.
Esse espaço da não realização de um projeto de vida que mudaria toda a rota do destino me obrigou a refletir sobre quem sou e quem posso ser estando aqui.
Há vários momentos que deixo de lado a racionalidade e abro espaço para minha superstição, ao crer que fui poupada de algum tipo de sofrimento maior. O que, verdadeiramente, acho legítimo como processo de cura.
Curiosamente, esse lugar em que eu vivo há trinta anos sempre foi um não lugar. Transitório para algo maior e melhor que eu acreditava merecer. E esse merecer não foi merecido, então só me resta aceitar. Aceitar-se aqui, não se negligenciar. Então, aqui é um lugar possível.
Estou preparada para essa permanência. Abrir espaços e querer criar raízes onde, até então, não via morada, apenas passagem.
“Slow down, you’re doing fine. You can’t be everything you wanna be before your time. (…) though you can see when you’re wrong, you know you can’t always see when you’re right.”
Acho que permanecer é o seu grande acerto; tudo aquilo que você merece ainda está por vir e é melhor do que o que está no passado.
Barquinho na correnteza, Deus dará.